"(...)Peço-te que divulgues este texto escrito pela minha mãe, para que possamos fazer uma acção de sensibilização no maximo numero de pessoas possiveis. É um texto duro porque relata os factos do falecimento do meu irmão.É um grito de revolta dos meus pais e minha.
(...)Patrícia Lima"
"Nestes primeiros oito dias após o falecimento do meu filho tentei ordenar as minhas ideias, mas houve uma que desde o inínio norteou a minha postura, a firme decisão de que a morte dele não fosse em vão, que servisse para sacudir e despertar a acomodação a que nos votamos nas situações banais do dia a dia, mas que podem fazer a diferença entre a vida e a morte.
No relatório da autópsia do Instituto de Medicina Legal foi apontada morte súbita. Ao fazer uma semana sobre o seu desaparecimento de entre nós, através do relatório pormenorizado da GNR com os dados do INEM e da recolha de todos os depoimentos e registos oportunos, verificou-se que teve uma paragem cardíaca com perda de consciência. Vinte e quatro horas depois ainda não tinha sido dado como morto, uma vez que foram executadas manobras de ressuscitação, donde se conclui que, se tivesse tido assistência num curto espaço de tempo, é provável que não tivesse passado de um susto e hoje estivesse connosco.
Resumidamente, o meu filho estava a desempenhar as funções de promotor comercial das máquinas Nespresso, o que implicava ter postos de trabalho diversos nos diferentes dias da semana. No dia 12 do corrente o local de trabalho seria a Rádio Popular nos Carvalhos. Ele possuia viatura própria e à hora a que deveria dar entrada no local estacionou impecavelmente o carro, em frente à porta por onde deveria entrar. Não chegou a sair dele, teve apenas tempo de o desligar e retirar a chave da ignição. Permaneceu 24 horas nesta situação, até que, por inexorabilidade do destino, a própria irmã o foi encontrar, assim mesmo. O local é privado, vigiado por pessoal de uma empresa de segurança e fechado durante a noite. A hora de entrada do carro consta do registo respectivo. Havia uma camara focada na direcção do carro, que registou imagens durante o dia. Várias pessoas circularam junto, visto o estacionamente ser de uma única fila (os carros estacionam lado a lado).
Como se pode inferir pela descrição do cenário, várias circunstâncias ressaltam:
- A indiferença de quem olha e vê, ou nem sequer vê, que há alguém dentro de um carro, numa posição não muito comum (tombado para o lado), mesmo que se penssasse que pudesse estar a dormir;
- A completa incompetência e ineficácia profissional de quem compete vigiar o espaço.
Estas circunstâncias, desde o início, revoltaram-me profundamente e traduzem-se na indiferença do que se passa com “o outro”, na sub-valorização da vida humana, na banalização das dificuldades alheias. Acresce a isto a incompetência profissional que grassa na nossa sociedade, a quem se culpabiliza de tudo, mas a cujos responsáveis prevaricadores facilmente se descarta de responsabilidades.
Perder um filho é uma dor demasiado forte. Tento pensar que tinha chegado a sua hora, pois várias circunstâncias difíceis de reunir aconteceram nesse dia, incluindo o facto de estar sem telemóvel.
Perdoem-me, mas fiz questão de deixar claras as circunstâncias em que tudo decorreu, principalmente com uma intenção, pedir-vos ajuda neste “sacudir” de consciências. Tal como o fiz com as minhas e os meus colegas, amigos de amigos, familiares, dêem por favor a conhecer as circunstâncias da morte do meu filho, quem sabe, poderemos despertar quem possa evitar a perda de mais uma vida humana!
BEM HAJA !
Maria Celeste Lima"
É chocante!! :-( Mas é real, eu conhecia-o!